Uma resposta à crise feita de madeira maciça.
Nasceu para fugir à crise mas pouco depois já construía as cadeiras onde se sentaram Obama ou os convidados da Web Summit. A marca de mobiliário Wewood não poderia ter nascido numa empresa mais tradicional, mas a aposta no design e na madeira maciça fez com que conseguisse chegar a mais de 50 países. Salvador Gonzaga, o CEO da empresa, explica numa frase a principal razão desse sucesso: “Trabalhamos com os melhores arquitetos, os melhores designers, os melhores decoradores”.
A crise internacional de 2008 obrigou a Móveis Carlos Alfredo a reinventar-se. Fundada em 1964, no concelho de Paredes, a empresa precisava de conquistar novos clientes e de trazer algo de novo ao mercado. Havia duas possibilidades, dedicar-se a um segmento mais baixo e mais barato para continuar a ser competitiva ou “subir”, diz Salvador Gonzaga. Optaram pela segunda hipótese, e foi assim que nasceu a Wewood.
“Subir” implicava ir buscar recursos que faltavam, a começar pelo design. “Nós produzíamos para outras marcas, mas sempre com design de outrem”, sublinha Salvador Gonzaga.
Tivemos que criar modelos, protótipos e toda a estrutura para começar a desenvolver uma marca, que foi a Wewood.
Esse trabalho demorou cerca de dois anos, e quando finalmente ficou pronto a marca foi apresentada ao mundo em Paris, na Maison&Objet de 2011.
Hoje a empresa emprega 24 pessoas e fatura cerca de 3,5 milhões de euros. Tornou-se autónoma da Móveis Carlos Alfredo, a casa-mãe que tem um volume de negócios de cerca de 9 milhões de euros e mais de uma centena de trabalhadores. Ambas exportam mais de 90 por cento da sua produção, mas enquanto a Móveis Carlos Alfredo se centra quase exclusivamente nos mercados de Espanha e França, a Wewood foi criada para ser uma marca internacional e depressa atravessou as fronteiras da Europa com as suas peças artesanais de madeira maciça que dispensam os parafusos e a cola.
Desde o início que o objetivo da empresa era internacionalizar e diversificar mercados, por isso a sua estratégia passou pela participação em feiras nos mais diversos países. Esse ritmo acabou por abrandar, explica Salvador Gonzaga.
Neste momento queremos atingir um objetivo com algumas feiras, sem dispersar muito. Portanto decidimos fazer duas feiras a sério, que é a Maison&Objet em Paris, em janeiro, e a Isaloni de Milão, em abril.
Os resultados acabaram por aparecer mais cedo do que se previa e, ao terceiro ano, “a marca já se pagava”, sublinha o CEO da Wewood. A empresa tem conquistado clientes na área da restauração, hotelaria e turismo, sendo a autora de projetos como o 1908 Lisboa Hotel ou o empreendimento da Cálem, em Vila Nova de Gaia, onde o museu, a loja ou a sala de provas foram decorados com as suas peças.
Tendo nascido para dar resposta a uma crise, a Wewood procura agora antecipar-se a outras incertezas. Criou um showroom em Londres, o primeiro fora de Portugal, para colmatar os possíveis efeitos do Brexit e para estar mais próxima dos principais gabinetes de design e de arquitetura que trabalham para todo o mundo.
Nós temos alguns projetos em Londres e outros em Paris, mas 70 ou 80 por cento do que fazemos através dos clientes de Londres é para outros países, desde o Médio Oriente à Ásia.
O processo de internacionalização da Wewood teve alguns percalços, entre os quais o investimento no Brasil do qual a empresa acabou por desistir devido às barreiras financeiras e fiscais. Mas da história da empresa fazem também parte momentos de grande promoção e visibilidade, como o dia em que foi escolhida para decorar com três peças, duas cadeiras e uma mesa, o palco onde o anterior Presidente norte-americano Barack Obama discursou, no Porto, durante uma conferência sobre alterações climáticas. Ou quando, em 2017, forneceu um sofá, as cadeiras e uma mesa de apoio para o palco principal da Web Summit, em Lisboa.
A crise de 2008 pode ter sido a razão que fez nascer a Wewood, mas para Salvador Gonzaga foi o design que a diferenciou. A secretária Bridge, por exemplo, desenhada por Christophe de Sousa para a Wewood, venceu em 2019 a medalha de bronze na categoria Mobiliário de Interiores da European Product Design Award. Aliás, para o CEO da Wewood, o design inovador é uma característica que começa a ser associada ao mobiliário português.
Hoje a imagem de Portugal já não é a de um país produtor, é de alguém que sabe fazer e sabe criar, e isso só foi possível quando o design das empresas começou a ganhar prémios.
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