Passar para o conteúdo principal
Campo Obrigatório
03 de Março 2023
1. Decisão de Internacionalizar

Vencer nos Mercados Internacionais

INFORMAÇÃO DE MERCADO

A decisão de internacionalizar pode ser motivada por diversas razões, sendo conveniente que toda a equipa esteja ciente das mesmas para assegurar a coerência com as fases seguintes de escolha de mercados e de opções estratégicas.

A decisão de internacionalizar é o primeiro passo da política de internacionalização de qualquer empresa.

É importante referir que uma aposta estratégica na internacionalização do negócio obrigará a alterações profundas na empresa em várias áreas:

Financeira

Uma aposta estratégica nos mercados externos pode estar associada a um maior nível de investimento a vários níveis (marketing, comercial, industrial, RH), o que pode concretizar-se com recurso a capitais próprios ou através de financiamento bancário e/ou de investidores;

Controlo de gestão

É crucial a definição de preços de transferência, a partir dos quais serão estabelecidos os preços dos mercados internacionais. E aqui a estratégia poderá ser mais ofensiva – reduzir margens para aumentar quota de mercado internacional – ou mais defensiva – aumentar margens para tornar a área internacional um driver de rentabilidade, mesmo que isso signifique um crescimento mais lento;

Recursos Humanos

O negócio será necessariamente de maior complexidade o que obrigará a empresa a alterar a estrutura de custos para responder às exigências do mercado internacional;

Industrial

Poderá ser necessário reconverter ou aumentar a capacidade industrial, com base nas necessidades do mercado internacional, ou considerar soluções de produção alternativas – por exemplo, novas instalações próprias ou mesmo terciarização da produção;

Marketing

  • No research – que permitirá conhecer os mercados externos com maior profundidade;
  • No produto – assumindo que a empresa vai adaptar o seu portfólio de produtos às necessidades dos clientes internacionais, seja por via de fórmulas distintas das que considerava no mercado doméstico, formatos diferenciados, embalagens mais apelativas para o consumidor final do mercado externo, limitações legais da venda de determinados produtos, marcas específicas para o mercado internacional, entre outros aspetos.
  • Na distribuição – com adaptação às especificidades dos canais de distribuição dos vários mercados, particularmente ao nível da logística (unidades / caixa, paletização, entre outros.)
  • Na comunicação – com campanhas adaptadas ao consumidor do mercado externo em causa, nas mensagens, cultura, vantagens competitivas e produtos que mais valoriza nos meios de comunicação que mais consome.

Isto significa que, para muitos negócios, a política de internacionalização poderá ser não internacionalizar. E, de facto, essa é a realidade que serve os objetivos de inúmeras empresas um pouco por todo o mundo.

A internacionalização não fará sentido se a empresa considerar que:

  • Não dispõe dos recursos financeiros necessários, nem pretende aumentar dívida ou perder controlo do capital;
  • Não tem os recursos humanos suficientes, nem quer aumentar a estrutura de custos de pessoal;
  • Não está disposta a alterar a sua política de marketing (produto, preço, distribuição, comunicação);
  • Não pretende escalar o negócio além do mercado doméstico, ou encontrou outras formas de crescimento neste mercado que satisfazem os seus objetivos.

Exemplo: Pastéis de Belém

Os Pastéis de Belém são já uma marca turística na cidade de Lisboa e capitalizaram no crescimento do turismo da cidade nos últimos anos. Aproveitando o crescimento da marca Lisboa, teriam aparentemente uma grande oportunidade em internacionalizar o negócio.
Poderiam ter quiosques nos centros comerciais de todo o mundo (próprios ou em franchising), vender o produto congelado online ou via cadeias retalhistas, chegando assim a milhares de pontos de venda e milhões de consumidores numa base diária.
No entanto, fazê-lo implicaria uma perda da exclusividade associada à loja de Belém, pelo que a empresa optou por não se internacionalizar. Em alternativa, aumentou a capacidade daquela localização, através da aquisição de vários edifícios nas proximidades.

 

Motivos para a internacionalização

Existem três grandes grupos de motivos para a internacionalização:

  • Oportunidade Estratégica
  • Crescimento das Vendas
  • Fortalecimento da Empresa

oportunidade estratégica

Pequenas e médias empresas de vários mercados deparam-se com oportunidades estratégicas que tornam o processo de internacionalização, mais rápido, menos oneroso e mais natural.

IMAGEM DO PAÍS DE ORIGEM

A imagem do País de Origem como especialista em determinado setor atua como acelerador da internacionalização das empresas desse país que operam nesse mesmo setor. O próprio país já fez um trabalho de marketing de longo prazo e, portanto, as empresas do setor usufruem naturalmente desse capital de marca construído ao longo dos anos uma vez que, internacionalmente, o país é sinónimo de qualidade naquela área. Exemplos desta realidade são a comida italiana (spaghetti, pizza, azeite, queijo parmesão, gelados, cafés), a pastelaria francesa (croissant, macarron, pain au chocolat), os chocolates e relógios suíços, e os automóveis alemães (BMW, Volkswagen, Audi, Opel).


No caso de Portugal tem sido realizado um trabalho notável de criação de marca em diversos setores como o turismo, o calçado, a cortiça, o vinho, entre outros. As empresas destes setores que agora se vão internacionalizar beneficiam de uma imagem que já foi desenvolvida anteriormente por outras entidades, sejam empresas, sejam associações, como é o caso da APICCAPS no setor calçado.

 

The Sexiest Industry in Europe – APICCAPS

The Sexiest Industry in Europe – APICCAPS

PROXIMIDADE CULTURAL E GEOGRÁFICA

A proximidade cultural e geográfica com outro(s) país(es) facilita a decisão de internacionalizar e a escolha dos primeiros mercados. O processo torna-se mais rápido e menos oneroso. Em muitos casos já existem inclusivamente protocolos de cooperação económica estabelecidos entre Estados que facilitam as transações económicas entre empresas de ambos os mercados (por exemplo, ao nível fiscal, regimes especiais ou isenções de taxas aduaneiras).

São exemplos desta realidade os PALOPS (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa), a União Europeia, o Mercosul (América do Sul), a Commonwealth (Países de Língua Inglesa) ou a SADC (África Austral).

MERCADOS EXTERNOS MENOS EXIGENTES

Em vários setores os mercados externos são menos exigentes que o mercado interno. Isto significa, por exemplo, menor fiscalidade, menos concorrência, menor sensibilidade ao preço, mais clientes potenciais para a empresa. Um exemplo clássico são as exportações de água engarrafada de nascente em Portugal. O primeiro destino destas exportações é o continente africano, devido à parca indústria local, insuficiente para satisfazer a procura. Em outros mercados com produção de água engarrafada local em quantidade suficiente, as marcas importadas são normalmente um produto de nicho, ou seja, destinadas a um público mais específico e, por isso, com quota de mercado muito reduzida.

OPORTUNIDADES DE AQUISIÇÃO EM NOVOS MERCADOS

Enquanto o mercado doméstico é, muitas vezes, bastante maduro e as oportunidades de aquisição são já escassas ou bastante onerosas, em outros mercados a realidade poderá ser diferente e assim, a aquisição de outras empresas, constituir uma oportunidade real para a internacionalização.

Exemplo: Delta

No setor alimentar, a Delta tem feito, ao longo dos anos, diversas aquisições de empresas que eram suas parceiras na distribuição em alguns mercados. Por exemplo, a torrefatora Delta Cafés, pertencente ao grupo Rui Nabeiro, adquiriu em 2015 a DAC - Distribuition Azuréenne de Café, localizada na costa do Sul de França, sendo que já existia uma parceria de distribuição de mais de duas décadas.

INCENTIVOS GOVERNAMENTAIS

Os incentivos governamentais podem ser de diferentes naturezas.

Umas das possibilidades consiste na atribuição de reduções ou isenções fiscais, de modo a tornar o mercado de destino mais atrativo para investimento estrangeiro (construção de fábricas e/ou infraestruturas, entre outros investimentos).

Um exemplo de aproveitamento destes incentivos é a Bial que beneficiou, em Espanha, de apoios locais.

Exemplo: Bial

Em Espanha, a Bial recebeu apoio , não reembolsável, para a construção d e uma unidade de produção de vacinas antialérgicas no País Basco, investimento realizado entre 2010 e 2011. Em 2017 a Bial vendeu a empresa detentora desse ativo, no âmbito da especialização do grupo no mercado de medicamentos não injetáveis.

ENFRAQUECER A CONCORRÊNCIA

A internacionalização do negócio pode também destinar-se ao enfraquecimento da concorrência. A exportação para mercados onde a nossa concorrência seja particularmente forte poderá ser um movimento estratégico por dois motivos – ou porque é possível conquistar quota de mercado relevante à concorrência ou por constituir uma estratégia para diminuir margens da concorrência nesse mercado.

CRESCIMENTO DAS VENDAS

O crescimento das vendas é a principal razão pela qual uma empresa decide internacionalizar a sua atividade. Mais mercados são sinónimo de mais clientes e consumidores e, consequentemente, de mais vendas.

IMAGEM DA MARCA

O facto de a empresa ter ou pretender ter atividade em várias geografias vai também contribuir para o reforço da sua imagem de marca. À medida que a marca se torna distribuída e visível em vários mercados, a sua reputação e notoriedade tendem a aumentar. Deixa de ser uma marca local para passar a ser uma marca internacional, validada e testada em vários contextos, locais e por diferentes tipos de clientes e consumidores. Exemplos desta realidade incluem os gigantes do grande consumo Procter & Gamble, Nestlé e Unilever, no mobiliário a IKEA, na mobilidade a UBER e no entretenimento a Netflix.

Em Portugal existem poucas marcas globais. Ainda assim, destacam-se alguns exemplos, dos quais o primeiro foi o Mateus Rosé, com uma forte atividade internacional a partir, sobretudo, dos anos 60.

Exemplo: Navigator

A Navigator é uma marca portuguesa da Navigator Company, uma empresa que teve um volume de vendas de 1600 milhões de euros em 2021, é líder europeia na produção de papéis finos de impressão e escrita não revestidos (UWF) e sexta classificada a nível mundial. É também o maior produtor europeu, e um dos maiores a nível mundial, de pasta branqueada de eucalipto BEKP Bleached Eucalyptus Kraft Pulp.
A marca Navigator produz o papel premium mais vendido no Mundo com, segundo a informação do site da empresa, consumidores em mais de 130 países a confiar diariamente nesta marca de papel.

SEGUIR OS CLIENTES

No B2B muitas empresas seguem os seus clientes quando a sua atividade se internacionaliza. Significa que, quanto mais internacional for a atividade dos clientes, mais internacional se torna a atividade da empresa. Exemplos desta prática incluem empresas multinacionais de consultoria e auditoria, mas também há exemplos portugueses como fornecedores sobretudo de frutas, legumes e vinhos para a retalhista Biedronka, pertencente ao grupo Jerónimo Martins, na Polónia.

FORTALECIMENTO DA EMPRESA

A empresa como um todo pode beneficiar do alargamento do negócio internacional. Não apenas estrategicamente ou no crescimento de vendas, mas também no negócio total, considerando o mercado interno e o mercado externo.

ECONOMIAS DE ESCALA

Para modelos de negócio ou setores onde o preço é decisivo, as economias de escala são uma forma de diluir custos fixos por grandes volumes de produção. Por esta razão as empresas procuram, permanentemente, alargar a internacionalização do seu negócio, porque isso significa não apenas um novo mercado e, consequentemente, mais vendas, mas também porque vai resultar em maiores volumes de produção e em custos unitários mais baixos para todos os mercados onde a empresa opera.

Exemplos internacionais incluem a IKEA ou a Primark, atuando ambas com posicionamento de baixo preço nos setores do mobiliário e da moda.

DIVERSIFICAÇÃO DO RISCO

Internacionalizar o negócio surge também da necessidade de diversificar a exposição da empresa ao risco de um único mercado, normalmente do mercado doméstico.

O racional é simples: quanto maior o número de mercados em que a empresa atua, mais sólida é a sua atividade. No caso de um determinado mercado não responder como a empresa deseja, os outros mercados poderão compensar aquele / aqueles que estão menos bem.

Os riscos mais naturais a que uma empresa está exposta são:

  • O risco competitivo (concorrentes que ameaçam o seu negócio);
  • O risco do ciclo de vida do produto (quando o produto se torna obsoleto);
  • O risco económico: Flutuações cambiais; Alterações legislativas; Crises Económicas; Crises Sociais.
SERVIÇOS NÃO TRANSPORTÁVEIS

Quando a atividade da empresa exige a sua presença física no local onde exerce essa atividade, a deslocalização do negócio surge como a única alternativa de internacionalização. Um exemplo claro disso são as empresas de construção.

DESLOCALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO

A deslocalização da produção é também uma forma de fortalecer a empresa transversalmente e surge por várias razões:

  • Benefícios fiscais e taxas aduaneiras: O governo do país para onde é deslocalizada a produção concede regimes fiscais especiais para as empresas internacionais que se desejam fixar no seu território. Em outros casos compensa deslocalizar a produção para um mercado cliente para evitar taxas aduaneiras e custos de transporte. Por exemplo, a Sumol-Compal detém uma unidade fabril em Moçambique, onde também vende os seus produtos ao consumidor final.
  • Facilidade de acesso a matérias-primas: Certos países dispõem de recursos naturais que constituem matérias-primas de vários setores, tornando-se assim um destino natural para que as empresas desses setores deslocalizem a sua produção para estes mercados. Por exemplo, o café ou o cacau são plantas originárias de países com condições climatéricas muito particulares que permitem o seu cultivo, razão que levou a que a Delta passasse a deter uma unidade fabril em Angola.
  • Mão de obra mais barata: A mão de obra barata, particularmente em setores mais sensíveis ao preço, é uma vantagem competitiva que muitos setores perseguem. Por exemplo, a China ganhou vantagem competitiva mundial em muitos produtos – brinquedos, têxteis, e outros – graças ao baixo custo da sua mão-de-obra, com a qual Europa e EUA não têm condições para competir.
  • Facilidade de acesso a tecnologia: A tecnologia desempenha um papel importante em muitos setores. O acesso a esta tecnologia, pode ser uma vantagem competitiva. Por exemplo, há um número significativo de empresas, sobretudo tecnológicas americanas, que deslocalizaram a produção para países asiáticos porque, para além do acesso a mão de obra barata, ficam próximas dos centros de produção de semicondutores que integram grande parte dos aparelhos que dominam o nosso dia-a-dia.

Campo Obrigatório