Saber Vender Online
Importa, também, fazer a comparação com outros países no que respeita aos principais indicadores de e-commerce, tendo uma atenção especial ao contexto europeu.
Descrevemos abaixo as principais características de seis mercados europeus (Reino Unido, Alemanha, França, Países Baixos, Espanha, Suécia), bem como dos Estados Unidos da América e da China. Explicitamos também as principais tendências de compra cross-border em cada país e as condições essenciais para a implementação de uma estratégia bem-sucedida de vendas online para estes mercados.
Reino Unido
Fatores-chave do mercado:
- País da Europa com maior número e valor de transações online;
- Constrangimentos logísticos provocados pelo Brexit não parecem condicionar as compras cross-border;
- Estrutura logística e de transportes local avançada, o que leva a maior exigência no serviço por parte dos clientes online;
- Tendências emergentes no mercado apontam para o aumento da procura de produtos em segunda mão e de aluguer de produtos online.
O Reino Unido é um mercado maduro e em constante inovação em relação às vendas à distância. Segundo o relatório European E-commerce Report de 2022, 84% da população do Reino Unido são e-shoppers, ou seja, fazem compras online. O crescimento das compras online é mais reduzido, cerca de 2% ao ano, comparado com os 23% de crescimento do mercado português, (isto acontece por se tratar de um mercado muito maduro nas compras online).
O e-commerce no Reino Unido é suportado por uma infraestrutura digital e logística avançada, alta taxa de utilização da Internet e de utilização de smartphones nas compras online. É também um mercado com uma ótima ligação ao resto do mundo através do suporte de transportadoras com operação local e cross-border.
O Reino Unido destaca-se nas vendas online com uma taxa de conversão média online de 1,9%. A taxa de conversão resulta da divisão entre o número de vendas e o número de visitas da loja online, a multiplicar por 100.
Os clientes esperam das marcas entregas rápidas, acompanhamento das encomendas em tempo real e uma oferta diversificada de métodos de pagamento. É um mercado extremamente competitivo e maduro, no qual as marcas estão ativa e localmente a investir (principalmente depois do Brexit e dos constrangimentos alfandegários criados após a separação do Reino Unido da União Europeia). A compra média anual ascende aos 4115 € e o mercado B2C representou, em 2020, 235,3 mil milhões de euros.
Em todos os mercados o smartphone é o dispositivo que mais cresce em número de utilizações e transações online, no entanto, o Reino Unido é um dos mercados em que esta situação é mais relevante, sendo apenas ultrapassado pela China. De acordo com a plataforma netimperative.com, 2021, 33% dos consumidores online no Reino Unido compram através das redes sociais e o TikTok está a efetuar testes no mercado de compra direta em marcas como a L'Oréal, através da sua aplicação ou através de links de afiliados.
Os cartões de crédito são o método de pagamento mais utilizado (cerca de 52%) em e-commerce no Reino Unido, seguido de digital wallets, nas quais se inclui o PayPal, embora comecem a ter alguma representatividade outros métodos de pagamento mobile como o Apple Pay, Google Pay ou Visa Checkout. Pagamentos “compre agora, pague depois”, como Klarna ou Afterpay também começam a entrar no mercado.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
E-commerce cross-border
As compras cross-border representam 25% das transações online, pelo que, os clientes online estão habituados a comprar a comerciantes internacionais, nomeadamente nos Estados Unidos da América e Alemanha.
O Brexit teve um forte impacto na forma como hoje os bens são importados para o Reino Unido. Desde 1 de janeiro de 2021 que as regras mudaram para todas as vendas cross-border. A nova regulação indica que 20% de IVA deve ser aplicado em todos os bens, independentemente do seu preço. O IVA terá de ser pago no mercado os comerciantes terão de se registar para esse efeito. A melhor opção para as vendas via comércio eletrónico é a utilização de serviços DDP (Delivery Duties Paid), para que as encomendas não fiquem paradas na alfândega a aguardar tratamento ou recolha por parte do cliente.
França
Fatores-chave do mercado:
- França é um dos países mais protecionistas dos negócios locais;
- Os períodos promocionais e de saldo são regulamentados e são aplicadas coimas aos comerciantes que não cumpram a legislação;
- O método de pagamento com maior relevância é Carte Bancaire, ou seja, os cartões de crédito e débito de bancos locais.
O mercado francês está gradualmente a crescer em vendas online, sendo o segundo maior mercado europeu neste tipo de transações. Embora seja altamente regulado, só em 2020 nasceram 17 400 novas lojas online e os serviços postais locais, La Poste, verificaram um crescimento de 50% em envio de volumes no primeiro trimestre de 2021, segundo o Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
As compras online fazem parte do dia-a-dia em França. Recolhas em lojas físicas, bem como entregas em casa, são as opções mais escolhidas pelos franceses. Em termos de pagamentos, os clientes preferem pagar com cartão de crédito, no entanto, o PayPal e a Klarna já introduziram no mercado pagamentos “compre agora, pague depois”, o que está a causar mudança na utilização dos cartões online. O método de pagamento mais utilizado ainda é o Carte Bancaire.
82% da população francesa compra online, com as vendas neste canal a atingirem 13,4% das vendas a retalho do mercado francês. O mercado B2C em França representa cerca de 112 mil milhões de euros, com os consumidores online a gastarem cerca de 2450 € por ano - um dos valores mais altos da europa -, em três categorias essenciais: viagens, moda e produtos eletrónicos. A Amazon é um dos maiores retalhistas no mercado, embora o governo francês seja um dos membros do G7 a pressionar para a introdução de um imposto global a multinacionais tecnológicas, como a Amazon.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
E-commerce cross-border
Cerca de metade dos compradores online em França já efetuaram compras cross-border, representando uma oportunidade para marcas internacionais. Os países preferenciais até ao momento são a China, o Reino Unido e a Alemanha.
As compras online cross-border representam atualmente 14,6% do total de transações via e-commerce no mercado. No entanto, os comerciantes que pretendam vender no mercado através de e-commerce cross-border, deverão ter em consideração a lei francesa em relação aos direitos do consumidor. Caso pretendam avançar com uma operação de e-commerce local devem avaliar a necessidade de implementar uma loja online em língua francesa, identificar restrições em relação aos períodos promocionais, impostos e regras sobre a devolução dos produtos.
O estado francês é altamente protecionista dos negócios locais, tendo em 2020 adiado o Black Friday para proteger os vendedores locais de menor dimensão.
Alemanha
Fatores-chave do mercado:
A Alemanha é o terceiro maior mercado em e-commerce da Europa;
- Os clientes alemães preferem efetuar compras online nos marketplaces locais como Otto.de e Zalando.de;
- Os métodos de pagamento locais, que permitem fasear os pagamentos e ativar o “compre agora, pague depois”, estão no topo das preferências dos consumidores online;
- A Alemanha possui uma das mais altas taxas de devolução da Europa devido à política de devoluções gratuitas e aos pagamentos efetuados depois dos clientes receberem as encomendas, como o “compre agora, pague depois”.
A Alemanha é um dos principais mercados em e-commerce da Europa, com características únicas em comparação com os restantes países. Posiciona-se como terceiro maior mercado de e-commerce da Europa, apenas atrás do Reino Unido e da França, segundo o Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021. O mercado alemão tem características únicas ao nível dos pagamentos, com a utilização do “compre agora, pague mais tarde”. Isto significa que os clientes beneficiam da possibilidade de pagar as suas compras online posteriormente, o que é um legado da compra por catálogo.
Este mercado é dominado pelos marketplaces, com destaque para Amazon, Otto e Zalando. A Otto está a investir para aumentar a sua infraestrutura para conseguir competir com a Amazon. Está também a desenvolver parcerias com entidades, como a Google, para desenvolver tecnologia de compras suportada por voz.
O e-commerce representa hoje 11,2% do total de vendas a retalho na Alemanha e 82% da população já comprou online. O valor médio anual de compras online por cliente é de 1484 €, ligeiramente abaixo dos mercados com maior número e valor de vendas online, Reino Unido e França. As categorias mais populares são viagens, produtos eletrónicos e moda.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
E-commerce cross-border
As vendas cross-border em e-commerce representam 171% das vendas totais de e-commerce na Alemanha, representando 158 mil milhões de euros em vendas anuais. Existem ainda muitos compradores online que não fizeram compras em lojas internacionais - apenas 55% dos clientes já efetuaram compras cross-border. Os mercados mais comuns são a China, o Reino Unido e a Áustria.
Devido aos constrangimentos em termos de transportes, as marcas internacionais preferem vender localmente através de markeplaces como Otto.de e Zalando.de. Os cidadãos alemães têm expetativas elevadas em relação a entregas rápidas: 75% dos compradores online afirmam que o máximo de tempo aceitável à espera de uma encomenda é de 3 a 5 dias, dando preferência às entregas em casa.
A Alemanha é um dos países europeus que mais efetua vendas cross-border, servindo os mercados que se encontram mais próximos de si, como a Áustria (70% das vendas cross-border são provenientes da Alemanha Checa, Dinamarca, Finlândia e França).
Países Baixos
Fatores-chave do mercado:
- O dispositivo mais utilizado nas compras online ainda é o computador. No entanto, com o crescimento da utilização dos dispositivos móveis é algo que pode mudar rapidamente nos próximos anos, o que significa uma oportunidade para as marcas que se posicionem cedo na estratégia mobile no mercado;
- iDeal é o método de pagamento mais utilizado e é fundamental para as vendas online;
- Os holandeses estão entre os melhores falantes de inglês não nativos, pelo que são um potencial target para lojas online que possuam este idioma;
- As entregas têm de ser rápidas, entre 2 e 3 dias, para cumprir as expectativas dos clientes holandeses.
Os Países Baixos são um forte mercado nas compras online, caracterizado pelo facto de os compradores serem multilingues. No entanto, os clientes holandeses preferem comprar em plataformas locais como Bol.com e Coolblue, essencialmente através de desktop. Plataformas internacionais como Amazon ocupam apenas o 3º lugar em tráfego online no mercado. Em comparação com os Estados Unidos da América ou China, ou outros países europeus, os Países Baixos têm menor taxa de utilização mobile e social commerce. Apenas 32% das transações online acontecem em dispositivos móveis. Embora a taxa de utilização das redes sociais ascenda aos 88% no mercado, o tempo de acesso diário a plataformas de social media é inferior a 1h30min.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
O Black Friday é uma época promocional relevante nos Países Baixos. Embora seja um evento importado dos Estados Unidos da América, acontece antes de Sinterklaas (Festa de S. Nicolau), que se comemora no dia 5 de dezembro, onde são oferecidos presentes, principalmente às crianças.
O método de pagamento mais utilizado é a transferência bancária, representando 67% das compras realizadas online. iDeal é o método de pagamento mais utilizado, o qual permite que os clientes paguem através do seu próprio banco, em tempo real ou através de pagamentos programados. Espera-se que este método de pagamento atinja 70% dos pagamentos online no mercado em 2024.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
E-commerce cross-border
Os Países Baixos são um mercado estratégico para as vendas online cross-border pelo facto de se posicionar como um hub logístico, com acesso por terra, ar e mar. Para os clientes, o tempo aceitável para as entregas é de 3 a 5 dias, segundo o website Statista.com, com cada vez mais pessoas a reforçar que preferem uma entrega entre 2 a 3 dias.
Apenas 56% dos compradores já efetuaram compras a vendedores de outros países, com a China a representar 49% das compras online cross-border, a Alemanha 19% e os Estados Unidos da América 7%. Para alcançar os clientes holandeses as marcas necessitam de disponibilizar pagamentos locais como iDeal ou digital wallets.
Os holandeses são proficientes em várias línguas, principalmente o inglês, pelo que, as lojas online nesta língua têm grande potencial de entrada no mercado. Francês e alemão são outros dois idiomas de fácil compreensão para os habitantes dos Países Baixos.
Espanha
Fatores-chave do mercado:
- Sendo um mercado protecionista, para aumentar a taxa de penetração no mercado, é necessário mostrar os conteúdos da loja em espanhol e oferecer métodos de pagamento locais;
- A procura pela compra online de produtos alimentares está a aumentar desde 2020 com os players locais a investirem cada vez mais nas suas cadeias de abastecimento e de entrega ao consumidor final;
- O social commerce está a crescer consideravelmente com o suporte dos bancos locais.
O mercado espanhol é bastante protecionista dos produtos e marcas locais, inclusive no que diz respeito à entrada de conteúdos televisivos internacionais (os quais são dobrados em espanhol) e a toda a indústria da música não latina. Por esse motivo é natural que as lojas online com maior volume de vendas sejam a Amazon.es, Carrefour ou El Corte Inglês.
A entrega de produtos alimentares aumentou consideravelmente durante a pandemia, o que acelerou o lançamento de serviços de entregas de produtos alimentares e frescos como a Amazon Fresh. Por outro lado, a procura por serviços logísticos por empresas de retalho alimentar aumentou consideravelmente. Um exemplo é a Alcampo que contratou a empresa Inglesa Ocado para implementar a sua supply chain de e-commerce em Espanha.
71% da população espanhola compra online, com uma compra média anual de 1791,35 €. O comércio eletrónico representa hoje 10,9% das vendas a retalho no país, em que cerca de 50% das transações são realizadas em dispositivos móveis. 80% da população utiliza a Internet de forma frequente, com acesso a redes sociais, e despende cerca de 2 horas por dia a navegar online.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
Os cartões de crédito são o método de pagamento preferido dos espanhóis, representando 48% do total de transações no mercado. O PayPal é a digital wallet mais utilizada e os novos métodos de pagamento que estão a surgir em outros países, como “compre agora, pague depois”, começam a angariar utilizadores, principalmente junto das camadas mais jovens.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
E-commerce cross-border
Segundo o 2021 European E-commerce Report, 90% dos compradores online efetuaram compras dentro do mercado espanhol. Dos inquiridos que efetuaram compras cross-border, 30% compraram a países da UE, 46% dos restantes países da Europa e 32% em países fora da Europa. Os países mais populares para compras cross-border em Espanha são a China, o Reino Unido e a Alemanha.
A taxa de adoção de dispositivos móveis no mercado é bastante significativa e o volume de transações via telemóveis ascende aos 50%. Com o suporte dos bancos locais, o social commerce tem atingido os valores mais altos da Europa. O CaixaBank, por exemplo, criou uma infraestrutura que permite aos retalhistas aceitar compras diretamente através das contas de Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp. Os clientes apenas clicam num link e são direcionados para o pagamento no CaixaBank.
Suécia
Fatores-chave do mercado:
- As plataformas e marcas locais são as mais escolhidas para compras online, no entanto, devido à facilidade de leitura de conteúdos em inglês, é possível competir no mercado com lojas online em outra língua - embora a melhor opção seja sempre traduzir a totalidade da informação sobre produtos para inglês;
- Klarna e Swish são métodos de pagamento locais e os mais utilizados nas compras online pelo facto de o mercado sueco privilegiar a transferência bancária como método de pagamento;
- A Suécia é um país com alta taxa de penetração de mobile commerce e em breve tornar-se-á um país mobile first.
Na Suécia são as lojas online locais que possuem o maior valor de vendas. Plataformas de e-commerce como NetOnNet ou Elgiganten, de produtos eletrónicos, ou a farmácia online Apotea, assim como a marca local H&M são as lojas online mais escolhidas. A Zalando, o marketplace alemão, é também uma das plataformas mais utilizadas no país. A Amazon lançou a sua presença local no final de 2020, no entanto, sofreu bastantes críticas pelo facto de não ter traduzido corretamente as descrições dos produtos e ter usado a bandeira errada no site. Para garantir a proximidade com o consumidor final, as marcas devem traduzir corretamente todos os conteúdos da loja online e personalizá-la de acordo com as expectativas dos clientes.
Entre a totalidade da população sueca, 89% efetua compras online, com uma compra média por utilizador na ordem dos 2110 € (o que é reduzido quando comparado com a Noruega, em que o valor médio anual é 3558 €); o e-commerce representa 11% das vendas a retalho no País.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
E-commerce cross-border
As compras cross-border são comuns na Suécia, com 58% dos compradores online a já terem comprado em lojas de outros países, nomeadamente da China, Alemanha e Reino Unido. A Suécia está no top cinco dos países europeus que dominam a língua inglesa, o que permite que plataformas de e-commerce internacionais, com conteúdos em inglês, possam concorrer no mercado sueco.
O mobile commerce é utilizado em 50% das transações online, nas quais é dada preferência à experiência em lojas online em browser em comparação com aplicações móveis. Espera-se que as vendas através de dispositivos móveis aumentem gradualmente 14% ao ano até 2024, o que significa que nessa altura a Suécia será um país mobile first.
As transferências bancárias são o método de pagamento mais comum na Suécia, sendo utilizado em 36% das transações. A aplicação móvel Swish, que atua de forma semelhante ao MB Way em Portugal, é usada por dois terços da população.
Estados Unidos da América
Fatores-chave do mercado:
- Nos EUA os consumidores são experientes em compras online e possuem elevadas expectativas sobre o serviço de entregas. Entrega em loja é uma das opções com maior adesão desde 2020;
- O mobile commerce representa 4% das vendas a retalho online;
- A entrada no mercado online nos Estados Unidos da América pode ser simplificada através de colocação de produtos à venda no marketplace da Amazon, em simultâneo com a venda direta.
O mercado norte-americano destaca-se nas vendas online, não só pela sua dimensão, mas também pelo crescimento nos últimos 20 anos. Os clientes dos Estados Unidos da América são claramente early adopters das transações através da Internet. Praticamente todo o comércio físico possui uma estratégia digital através de e-commerce, o qual concorre com gigantes digitais, como a Amazon, que representou 38,1% do mercado de vendas online dos EUA em 2020. Em segundo lugar esteve a Walmart com 5,3% de quota de mercado e o Ebay em terceiro lugar, com 4,7% do total de vendas online do mercado norte-americano em 2020, de acordo com o Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
O Black Friday, a Cyber Monday e o Prime Day são os dias promocionais mais importantes do ano. O período do Black Friday/Cyber Monday é marcado pela Ação de Graças e acontece anualmente no último fim-de-semana de novembro. Já o Prime Day, sendo um dia promocional criado pela Amazon, tem sido implementado em datas diferentes, o que pressiona os restantes comerciantes a apresentarem ofertas apelativas nas mesmas datas.
O e-commerce representa 14% das vendas a retalho, percentagem que apenas é ultrapassada pela China com 24,5% das vendas de retalho a realizarem-se online, em 2021, de acordo com o website Statista.com. Com 77% da população a comprar online (num país com mais de 332 milhões de habitantes), a opção de entrega que mais cresceu desde 2020 foi o click and collect, dando aos não pure players digitais a oportunidade de vender online aos seus clientes mais fidelizados, com uma experiência de entrega em loja.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
O curbside pick up, recolha num local específico para o efeito, evitando a entrada em loja física, é a opção mais escolhida pelos clientes online em 2020 e 2021, o que permitiu às marcas implementarem estratégias omnicanal. Por exemplo, a Target reportou um crescimento de 500% nas recolhas em loja em modo drive in, sem contacto físico com os operadores de loja.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
Os cartões de crédito são utilizados em 58% das transações online, seguidos de digital wallets, os quais são liderados pelo PayPal, de acordo com o Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021. A entrada de novos métodos de pagamento, como “compre agora, pague depois”, com Klarna, After Pay ou outros, ainda não retirou quota de mercado significativa aos métodos de pagamento tradicionais.
E-commerce cross-border
As transações cross-border são menos comuns do que em outros mercados, devido à oferta alargada existente no país. Embora existam taxas entre estados, as transações são simplificadas pelo facto de utilizarem a mesma língua, moeda e métodos de pagamento.
Sendo um mercado dominado pela Amazon, a entrada é facilitada ao utilizar pelos serviços da gigante tecnológica. No entanto, a sua quota de mercado tem diminuido ligeiramente, o que pode significar que existe margem para a entrada de mais marcas, principalmente de venda direta ao consumidor final, embora a forma menos arriscada será entrar no mercado através do marketplace e serviços logísticos prestados pela Amazon nos EUA.
Mercadorias com valor superior a $800 estão sujeitas a taxas e impostos nos EUA. No entanto, esse limite de imposto de importação dos EUA aplica-se apenas a determinados bens. Existem ainda algumas exclusões: objetos pessoais como roupas, joias e câmaras não estão sujeitos a impostos alfandegários e taxas de importação se tiverem mais de um ano. Artigos domésticos, como móveis e ferramentas de utilização para prestadores de serviços (como ferramentas para canalizadores, carpinteiros, entre outros), podem ser importadas com isenção de impostos se tiverem sido usadas fora do país por mais de um ano ou não se destinarem a qualquer outra pessoa singular ou à venda. As compras através de comércio eletrónico que são enviadas por correio são isentas de impostos se forem inferiores a $1600 e de um país de posse insular (IP). O mesmo se aplica a compras inferiores a $800 e de um país da Iniciativa da Bacia do Caribe (CBI) ou país andino. O valor do imposto de importação e dos direitos a serem pagos depende do país de onde as mercadorias são importadas. O imposto está entre 0 e 37,5%, sendo a percentagem típica 5,63%. Uma taxa fixa de 3% aplica-se a compras de comércio eletrónico que excedam os limites do imposto de importação dos EUA. Além do imposto alfandegário, outros impostos como o imposto federal, taxas de utilizador, taxa de processamento de mercadorias (MPF) e taxa de manutenção do porto (HMF) podem ser cobrados sobre mercadorias importadas para os EUA pela Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP).
China
Fatores-chave do mercado:
- A China é o maior mercado de e-commerce do mundo;
- A maior parte das transações acontecem via super apps com integração com métodos de pagamento nativos do mercado;
- A legislação restringe a venda de bens via e-commerce sem HS code e os produtos têm de estar enquadrados na lista pré-aprovada de mercadorias;
- As empresas que pretendem vender para o mercado chinês devem-se pré-registar e optar pelo modelo de bonded warehouse ou direct mailing model.
A China é o líder mundial em e-commerce com elevados valores de vendas e investimento em inovação, particularmente em mobile e social commerce. Como mercado inovador por natureza, tem apostado em investir e desenvolver os canais digitais para reforçar o posicionamento das plataformas e marcas internas no exterior. Por esse motivo surge frequentemente como número um nas vendas cross-border enquanto exportador.
64% da população chinesa faz compras online, havendo ainda espaço para crescimento no mercado interno (Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021). O e-commerce neste mercado é realizado dentro de super apps, as quais permitem a socialização entre pessoas e grupos, adquirir produtos, contratar serviços, aceder à conta bancária e efetuar pagamentos, tudo num único ecossistema. A liderança está nas mãos do WeChat e do Alipay.
O Alibaba Group Holding Limited, é o líder no mercado, oferecendo serviços para vendas B2B, B2C, C2C, serviços e infraestrutura cloud. Depois da conhecida plataforma B2B, o Alibaba possui também a plataforma C2C, Taobao, e a loja online Tmall, líderes nos seus segmentos, e está atualmente a expandir o negócio offline com a aquisição da plataforma de entrega de comida Ele.me e a iniciar entregas de produtos frescos com os serviços Taxionda e Freshippo.
A China possui um mercado business to consumer avaliado em 1,9 mil biliões de dólares, o maior no mundo. As vendas via comércio eletrónico representam 30% do total de vendas a retalho no país, e os utilizadores gastam em média 2058 dólares por ano online.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
Os habitantes do país acedem à Internet através dos seus smartphones mais de três horas por dia e espera-se que ainda este ano a média seja de 3,5 horas. Não será, portanto, surpreendente que 64% das transações em e-commerce aconteçam via dispositivos móveis, e destas 65% aconteça em aplicações móveis.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
As carteiras digitais (digital wallets), são o método de pagamento principal na China, angariando 59% das transações devido à sua integração nativa com as supper apps e ao facto de as maiores lojas online possuírem as suas próprias digital wallets, como Wechat Pay, com WeChat, ou Alipay com Alibaba, os quais permitem pagamentos com um único clique (Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021). Elementos da cultura tradicional chinesa foram incorporados nestas aplicações e sistemas como o envelope vermelho com oferta de dinheiro, o que potencia as vendas online. O pagamento com cartão é o segundo mais popular com 21% de quota do mercado, seguido de transferências bancárias, sendo que a preferência recai por cartões de débito e não de crédito.
Fonte: Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021.
Embora exista uma enorme oferta no mercado chinês, as compras cross-border são representativas no mercado, com 39% dos compradores online a efetuar compras em outros países através de comércio eletrónico Global Ecommerce Trends Report, JP Morgan, 2021). Japão, Austrália e Estados Unidos da América estão no topo das preferências dos consumidores. A China possui uma lista de categorias de produtos que podem ser importados, com facilidade de passagem na alfândega e taxas de 9,1%. Para que os produtos possam entrar no mercado, terão de passar por um bonded warehouse (armazéns alfandegados). Hoje a China possui uma moderna infraestrutura logística, com mais de 241 aeroportos e uma rede ferroviária de alta velocidade. Adicionalmente, o governo chinês está a apostar na criação de hubs logísticos nacionais, com o objetivo de alcançar os 150 hubs em 2025.
E-commerce cross-border
Atualmente existem dois modelos-chave de venda cross-border para a China: bonded warehouses ou envio direto para o cliente. No modelo de armazéns alfandegados, estes estão numa área específica com a chancela dos serviços alfandegários do país, os produtos ficam guardados até serem pagas as taxas pelos clientes. Os produtos são enviados em conjunto para armazéns previamente aprovados para encomendas cross-border e aguardam que os clientes chineses efetuem as suas compras em sites de comércio eletrónico pré-registados. Só depois disso é que os produtos são retirados do hub e os impostos são pagos. Produtos que estejam na lista aprovada (https://www.tmogroup.asia/china-positive-list/) entram mais rapidamente no país, sem necessidade de registos adicionais ou processamento alfandegário. Adicionalmente, vendedores internacionais podem adiar o pagamento de taxas alfandegárias e IVA até à venda dos produtos aos clientes.
No modelo de envio direto ao cliente, o processo inicia-se quando o consumidor compra numa loja online previamente registada para envios cross-border. Depois da compra, a plataforma irá efetuar o registo da compra, envio e pagamento para a alfândega. Depois de pagos os impostos e taxas, a encomenda será enviada do armazém do vendedor para os serviços alfandegários e só depois serão entregues ao cliente, através de um serviço de transporte do mercado.
Indicadores principais | ||||||
---|---|---|---|---|---|---|
Países | Vendas online* | % e-shoppers | Valor médio anual de compras online (por pessoa) | Compras Cross-Border** | Método de pagamento preferencial | Países de preferência para compras Cross-Border |
Reino Unido | 27,9% | 84,0% | 4115 € | 25,0% | cartões de crédito | China, Alemanha e Estados Unidos da América |
França | 13,4% | 82,0% | 2450 € | 14,6% | cartões de crédito ou débito locais | China, Reino Unido e Alemanha |
Alemanha | 11,2% | 82,0% | 1484 € | 17,1% | “compre agora, pague depois” | China, Reino Unido e Áustria |
Países Baixos | 10,3% | 94,0% | sem dados | sem dados | transferência bancária | China, Alemanha e Estados Unidos da América |
Espanha | 10,9% | 71,0% | 1791 € | 19,0% | cartões de crédito | China, Reino Unido e Alemanha |
Suécia | 11,0% | 89,0% | 2110 € | 20,0% | transferência bancária | China, Alemanha e Reino Unido |
EUA | 14,0% | 77,0% | sem dados | 7,0% | cartões de crédito | sem dados |
China | 30,0% | 64,0% | 2058 € | 13,5% | digital wallets | Japão, Austrália e Estados Unidos da América |
* face ao total das vendas de retalho do país ** face ao total
Representação das vendas online face ao total das vendas de retalho do país, percentagem de e-shoppers no país e compras cross-border face ao total das vendas online dos países analisados
Gráfico elaborado com base na tabela anterior, pelo que alguns países podem encontrar-se sem informação disponível.
Países de preferência para compras cross-border dos países em análise
Métodos de pagamento preferidos nos países em análise