“A internacionalização é responsável por ainda estarmos aqui”, diz Simão Gomes, presidente da Industrial Sampedro, empresa portuguesa de têxteis-lar.
Na Industrial Sampedro já se vai preparando o centenário. Fundada em 1921, esta empresa familiar tem passado de geração para geração, emprega 160 pessoas e fatura cerca de 15 milhões de euros. Grande parte da sua produção, 88%, é exportada para países como o Reino Unido, Suíça, Suécia, Espanha ou França, mas nem sempre foi assim. Até ao ano 2000 a Sampedro centrou-se no mercado português, mas o presidente da empresa, Simão Gomes, começou a ver alguns clientes a fechar. “Atualmente exportamos para 32 países, sobretudo da Europa, por ser um mercado de proximidade e mais exigente”, diz. “A internacionalização é responsável por ainda estarmos aqui”
Colchas esticadas, cortinados alinhados, toalhas de banho penduradas ao lado do roupão e a mesa posta de linho. Dir-se-ia que alguém mora ali, se não estivéssemos no espaço de exposição da Industrial Sampedro. É a mais antiga produtora de têxteis-lar portuguesa em atividade e, tal como muitas outras, nasceu em Guimarães numa altura em que o setor dos têxteis começava a ganhar fôlego naquela região.
Na verdade “moram” ali 160 pessoas. A fábrica tem 26 mil metros quadrados de área coberta e muito desse espaço está ocupado pelos teares por onde desfilam fios de todas as cores e outras máquinas para mercerizar, tingir e fazer os acabamentos. O processo de internacionalização obrigou a mudar quase tudo, o investimento tem sido elevado nos últimos anos mas Simão Gomes considera que não poderia ser de outra maneira. Foi a olhar para fora e a modernizar-se que a empresa aumentou as vendas em cerca de 50% desde 2013, alcançando um volume de negócio que ronda os 15 milhões de euros. Além disso, o centenário já se aproxima e o presidente da Sampedro quer a empresa “de cara lavada”.
Os anos 20 do século passado estavam a começar e a Europa reerguia-se entre guerras, ainda sem saber que em breve voltaria a viver um novo conflito, quando os irmãos Álvaro Machado, professor universitário, e Eduardo Machado, antigo oficial miliciano, se juntavam ao comerciante do Porto Luís Eugénio Braga para fundar a Sampedro. Já nessa altura os têxteis eram relevantes para a economia da região de Guimarães.
A empresa começou por se dedicar à roupa de cama, que ainda hoje representa a maior parte das vendas, mas hoje fabrica também atoalhados de mesa, felpos e colchas. “Já vamos na quarta geração”, diz Simão Gomes, que chegou a estudar Medicina mas acabou por se juntar à família e licenciar-se em Engenharia Têxtil. “Já há netos, e estamos todos animados com o futuro.”
A viragem do milénio foi também um momento de mudança para a Sampedro. “A decisão de exportar foi tomada porque o mercado português é pequeno e com um baixo poder de compra. Então, começámos a ver que os nossos clientes estavam a fechar, e como tínhamos investido demasiado no mercado interno, por uma questão de tradição, tivemos que ser rápidos e pensar em exportar o máximo possível.”
No início, o processo de internacionalização da Sampedro não foi fácil. “Cedo verificámos que a questão não era só exportar. Tivemos que mudar equipamentos e máquinas quase na fábrica inteira”, recorda Simão Gomes. Investir na internacionalização obrigou a renovar a empresa, modernizá-la do ponto de vista tecnológico, adquirir teares mais flexíveis e máquinas diferentes. “Isto é um trabalho inacabado”, sublinha.
Na Sampedro, a par da tecnologia, foi preciso mudar a forma de olhar para o negócio. As fronteiras deixaram de ser nacionais e o objetivo passou a ser chegar às casas de dezenas de países. “Atualmente temos o prazer de exportar para 32 países diferentes, grande parte na Europa. Foi por isso que nos batemos, porque a Europa é um mercado de proximidade e um mercado mais exigente”. Foi essa aposta que levou a empresa a crescer 49,7 por cento de 2013 para 2018.
“Agora temos razões para pensar que estamos bem”, diz Simão Gomes. Mas nem sempre foi assim. A determinada altura a empresa viu alguns clientes encerrar e o mercado português a estreitar-se. “A internacionalização era a solução, disso não tínhamos dúvidas. Nós estávamos dedicados ao mercado interno e este era quase inexistente e estava a ficar invadido pelo grande retalho. O que nunca pensámos foi que teríamos que mudar tanto dentro da fábrica. Essa foi a surpresa.”
O primeiro passo acabou por ser a participação nas feiras mais importantes do setor. “Íamos para pavilhões comunitários, com um telefone quase comunitário, mas todos nos dávamos bem. Estávamos tão perto uns dos outros que até ouvíamos as conversas, mas isso foi uma ajuda muito grande”, recorda Simão Gomes, referindo-se às feiras em que a Sampedro participou integrada no stand do ICEP, atual AICEP.
Fomo-nos habituando a sair, a lidar com os clientes, e todo este método de aprendizagem foi importante. É algo que aconselho a novos industriais, porque no início, indo só, está-se mesmo só. E não é a mesma coisa, porque uns ajudam os outros.
Desde então quase tudo mudou na empresa. “Temo-nos candidatado, passo a passo, aos programas existentes. Penso que nos próximos dois anos acaba este ciclo de mudança. Diria que já não temos praticamente nada do que tínhamos, isto para satisfazer as novas exigências de um mercado mais sofisticado, de pequenas quantidades e resposta muito rápida, que exige uma capacidade de criação e uma imaginação muito grandes.”
Estudar mercados e preparar a equipa
O planeamento do processo de internacionalização da Sampedro começou pela avaliação das exportações portuguesas de têxteis-lar e do consumo nos diferentes mercados. “Vi quais os países que pagavam melhor, pensando que esses seriam os que comprariam com valor acrescentado maior”, recorda Simão Gomes. “Foi nesses países que se fez um maior esforço, porque quando se compra a um preço realmente mais elevado é porque se está a comprar algo melhor, e é a esse nicho de mercado que gostamos de nos dirigir.”
Por outro lado, a Sampedro procurou conquistar sobretudo pequenos clientes, preferindo não investir nos de maior dimensão. “Penso que a grande distribuição não nos permite ganhar, ou ganhar o suficiente para conseguir renovar a fábrica e pagar dignamente ao pessoal. Por isso, temos que fazer um esforço maior para encontrar clientes especializados que vendam artigos com valor acrescentado.”
Ao mesmo tempo que se fazia a avaliação dos mercados foi criada uma equipa dedicada à exportação, com cinco comerciais e outras duas pessoas, que o presidente da Sampedro considera estar adequada à dimensão da empresa, que acabou por atravessar fronteiras num momento complexo. “Não era a melhor altura, porque tivemos o euro, que nos fez ficar mais caros. Com a globalização, a China estava a entrar em novos mercados, e só a China valia mais do que os outros todos. Passámos a competir com países onde a legislação ambiental não é igual e a legislação laboral também não é igual. Deveria ter havido uma certa décalage para que nos adaptássemos melhor”, considera Simão Gomes.
Apesar dos vários entraves, a entrada nos novos mercados acabou por correr melhor do que as previsões. “A expectativa era vender 50%, porque pensámos que era quase impossível inverter a nossa situação, mas calhou melhor do que pensávamos”. Aos poucos foram sendo superados alguns problemas, mas a internacionalização, diz o responsável da Sampedro, é um processo inacabado que obriga a uma atenção constante. “Ainda recentemente li que pode haver problemas entre os Estados Unidos e a Europa. Há zangas comerciais entre continentes e países, e geralmente o têxtil é uma vítima.”
A empresa tem procurado diferenciar-se através de novas fibras e novos desenhos, e é com os novos produtos que se tem candidatado ao Sistema de Incentivos Fiscais à Investigação e Desenvolvimento Empresarial (SIFIDE). “Há 12 anos que concorremos e todos os anos a nossa candidatura é aprovada porque temos produtos inovadores”, sublinha Simão Gomes.
Outra preocupação da Sampedro tem sido a sustentabilidade e a poupança energética, por isso foi instalada no telhado da fábrica uma estação fotovoltaica que produz parte da energia que a empresa consome. “A sustentabilidade é uma prioridade grande, por isso fizemos alguns investimentos. Se tivermos processos que gastem metade da água, ou menos 30% da energia, a poupança será eterna.”
Quando se pergunta a Simão Gomes o que correu melhor ao longo do processo de internacionalização, a resposta é pronta: “Vamos fazer 100 anos e estamos aqui. A internacionalização é responsável por ainda estarmos aqui. Hoje temos muitos mais produtos, e ao fabricar para marcas também desenvolvemos para nós. A internacionalização foi importantíssima para o avanço criativo e tecnológico desta empresa.”
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